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Cannabis medicinal e saúde: o que as pesquisas revelam sobre eficácia e segurança

  • Foto do escritor: Emsí
    Emsí
  • 27 de fev.
  • 6 min de leitura

Seringas preenchidas com extrato de cannabis de alta concentração de CBD, representando medicamentos à base de cannabis usados terapeuticamente.

Introdução:

A utilização da cannabis medicinal na saúde é um tema que desperta grande interesse e expectativas. Mas o que as pesquisas científicas já comprovaram de fato? Quais doenças podem ser tratadas com cannabis com evidências sólidas de eficácia, e quais ainda carecem de estudos mais robustos? Além disso, quão segura é a cannabis quando usada como medicamento – quais os efeitos colaterais e riscos envolvidos? Neste artigo, vamos explorar de forma equilibrada o que a ciência já revelou sobre a eficácia e a segurança da cannabis medicinal, traduzindo achados técnicos em linguagem acessível.


Panorama Geral das Evidências Científicas:

Nas últimas décadas, houve uma explosão de estudos sobre os potenciais terapêuticos dos canabinoides(principalmente o CBD – canabidiol, e o THC – tetraidrocanabinol). Hoje, dispomos de ensaios clínicos randomizados, revisões sistemáticas e meta-análises que apontam benefícios em algumas condições específicas, enquanto outras aplicações permanecem inconclusivas. Segundo uma nota técnica da Fiocruz, há um número crescente de pesquisas indicando o potencial da cannabis em diversas condições, embora o nível de evidência varie conforme a doença .


Vamos detalhar o que já se sabe sobre eficácia em algumas das indicações médicas mais comuns da cannabis:

Epilepsia Refratária: Este é o campo com evidência mais robusta até agora. Diversos ensaios clínicos controlados comprovaram que o CBD reduz significativamente a frequência de convulsões em formas graves de epilepsia infantil, como as síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut . Alguns pacientes pediátricos que tinham centenas de crises por semana apresentaram melhoras drásticas com o óleo de cannabis. Esses resultados embasaram a aprovação do primeiro medicamento à base de CBD (Epidiolex, no exterior) e levaram o CFM a autorizar em 2014 o uso compassivo de CBD para crianças com epilepsias refratárias.

Dor Crônica: A dor crônica (como dores neuropáticas, dores oncológicas ou associadas a doenças como fibromialgia) é outro alvo frequente. Meta-análises envolvendo dezenas de estudos clínicos indicam que preparações com canabinoides podem proporcionar alívio significativo da dor em comparação ao placebo . Muitos pacientes reportam redução da dor e melhoria do sono e da qualidade de vida. Entretanto, os resultados variam – a cannabis não funciona para todos os tipos de dor ou todos os pacientes, e a resposta pode depender da dosagem e proporção de CBD/THC utilizada. Ainda assim, entidades como a National Academies of Sciences dos EUA concluíram que há evidências substanciais de eficácia da cannabis no tratamento da dor crônica em adultos.

Espasticidade na Esclerose Múltipla: A espasticidade muscular (rigidez e espasmos involuntários) em portadores de esclerose múltipla é uma condição para a qual a cannabis medicinal demonstrou benefício. Estudos mostram que combinações de THC+CBD (como o spray oral já aprovado) melhoram a espasticidade e reduzem dores muscularesnesses pacientes . Muitos países aprovaram medicamentos canabinoides especificamente com essa indicação. No Brasil, como citado, o Mevatyl (THC/CBD) foi registrado com foco na espasticidade moderada a grave em esclerose múltipla .

Náuseas e vômitos em quimioterapia: O THC possui conhecida ação antiemética. Derivados sintéticos do THC já são utilizados há décadas para ajudar no controle de náuseas e vômitos induzidos por quimioterapia em pacientes com câncer. A cannabis medicinal, seja fumada ou em extratos, também tem sido empregada com sucesso para pacientes oncológicos que não respondem bem aos remédios tradicionais contra vômitos . Muitos relatam aumento do apetite e prevenção da perda de peso durante tratamentos agressivos, graças aos efeitos combinados dos canabinoides.

Outras condições em estudo: Há investigações em andamento sobre o uso da cannabis em uma variedade de doenças e sintomas, incluindo transtornos de ansiedade, Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno do Espectro Autista (TEA), síndrome de Tourette, Parkinson, Alzheimer, dores reumáticas e outras. Os resultados iniciais são mistos. Por exemplo, alguns estudos sugerem melhora de sintomas de ansiedade e do sono com CBD, e pais de crianças com autismo relatam redução de irritabilidade com o uso de óleo de cannabis. Porém, nessas indicações os dados ainda são inconclusivos e de qualidade variável . É necessário aguardar estudos controlados mais amplos para confirmar eficácia e posologia ideal. Como destacou um pesquisador brasileiro, a cannabis não é uma cura para autismo ou transtornos psiquiátricos, podendo no máximo ajudar em alguns sintomas comportamentais . No caso de ansiedade, experimentos do renomado neurocientista José Alexandre Crippa (USP-RP) indicaram efeito ansiolítico do CBD tanto em animais quanto em pequenos ensaios com humanos, mas ele reforça que são necessárias amostras maiores para validar essas evidências preliminares .


Segurança e Perfil de Risco:

Um aspecto fundamental ao se avaliar qualquer tratamento é entender seus riscos e efeitos colaterais. De modo geral, a experiência clínica e os estudos conduzidos até aqui sugerem que a cannabis medicinal é bem tolerada pela maioria dos pacientes, especialmente as preparações ricas em CBD (que não é intoxicante). Entretanto, “bem tolerada” não significa isenta de efeitos adversos.


Principais pontos sobre a segurança do uso medicinal da cannabis:

Efeitos colaterais comuns: incluem sonolência/sedação, tontura, boca seca, euforia leve ou alterações de apetite. Em casos de doses mais altas de THC, pode ocorrer aceleração dos batimentos cardíacos, queda de pressão ortostática ou ansiedade transitória. Normalmente, esses efeitos são leves a moderados e manejáveis com ajuste de dose.

Segurança a longo prazo: Estudos de longo prazo, especialmente com CBD, indicaram um perfil tranquilizador – o CBD não demonstrou causar dependência, nem danos a órgãos como fígado ou rins nas doses terapêuticas usuais. O THC, por sua vez, requer mais cautela, pois o uso prolongado em altas doses pode levar a tolerância e, raramente, a um quadro de dependência leve em alguns indivíduos predispostos (embora bem inferior ao risco de dependência de opioides, por exemplo).

Populações de risco: Médicos contraindicam o uso de cannabis medicinal para certos grupos. Pessoas com histórico de psicoses ou esquizofrenia devem evitar THC, pois este pode agravar surtos psicóticos. Indivíduos com transtorno bipolar também exigem cautela, já que o THC pode precipitar fases maníacas em alguns casos. Além disso, jovens em fase de desenvolvimento cerebral (menores de ~25 anos) só devem usar canabinoides em situações muito necessárias e sob rigoroso acompanhamento médico . Isso porque o THC pode interferir em conexões neurais em cérebros ainda em maturação. Gestantes ou lactantes também devem evitar cannabis, devido a potenciais riscos ao feto/bebê (os canabinoides atravessam a placenta e são secretados no leite).

Interações medicamentosas: O CBD pode inibir enzimas hepáticas (como CYP3A4), alterando a metabolização de outros medicamentos. Já o THC, por seu efeito sedativo, pode potencializar o efeito de álcool, ansiolíticos ou antidepressivos. Assim, é importante que pacientes informem seus médicos sobre todos os remédios que estão usando para ajustes necessários.

Qualidade do produto: Um ponto de segurança não farmacológica é a procedência e pureza dos produtos de cannabis. Estudos ressaltam que óleos artesanais ou de fontes duvidosas podem ter concentrações inconsistentes ou estar contaminados (por pesticidas, metais pesados, solventes). Por isso, recomenda-se o uso de produtos com grau farmacêutico e análise laboratorial comprovada . Uma concentração incorreta (por exemplo, produto com teor de CBD muito abaixo do divulgado) pode levar a tratamento ineficaz e prejudicar a confiança na terapia .


É encorajador notar que milhares de brasileiros já utilizam cannabis medicinal com segurança. Segundo dados da Anvisa e plataformas especializadas, até 2023 havia mais de 100 mil pacientes cadastrados para uso de produtos de cannabis, número que pode chegar a 200 mil . Esses pacientes tratam condições como dor crônica (inclusive de câncer), fibromialgia, Alzheimer, Parkinson, epilepsia e depressão, com melhora significativa de qualidade de vida reportada em muitos casos . Os eventos adversos ocorridos têm se mostrado manejáveis frente aos benefícios obtidos, especialmente quando o acompanhamento médico é adequado.


Considerações Finais – Balanceando Benefícios e Riscos:

Em resumo, as pesquisas até o momento respaldam a eficácia da cannabis medicinal em algumas condições, notadamente epilepsias refratárias, dores crônicas e sintomas específicos como espasticidade e náuseas, com nível de evidência variando de moderado a alto conforme o caso . Para outros usos potenciais – ansiedade, autismo, doenças neurodegenerativas – as evidências são iniciais ou anedóticas, carecendo de estudos mais amplos . Isso não significa que a cannabis não funcione para essas condições, mas sim que a ciência ainda não chegou a um veredicto definitivo.


No tocante à segurança, a cannabis medicinal apresenta um perfil aceitável, desde que usada sob orientação profissional e com produtos de qualidade. Os efeitos colaterais existem, mas em sua maioria são controláveis e nenhum órgão internacional de saúde registrou mortes por overdose de cannabis. Ainda assim, responsabilidade e critério médico são palavras-chave: a cannabis não deve ser encarada como “cura milagrosa” nem ser utilizada indiscriminadamente.


Profissionais destacam a importância de selecionar bem os pacientes que podem se beneficiar – por exemplo, evitando-se cannabis em indivíduos com tendência a transtornos psicóticos ou uso abusivo de substâncias – e de monitorar resultados e reações durante o tratamento, ajustando doses conforme necessário.


Por fim, vale ressaltar que a agenda de pesquisa continua ativa. A cada ano, novos artigos e ensaios clínicos são publicados desvendando aspectos do uso terapêutico da cannabis. Instituições brasileiras, como a USP de Ribeirão Preto, despontam na produção científica sobre canabinoides. Com mais evidências, espera-se ampliar o rol de indicações aprovadas e refinar a compreensão de doses ótimas, esquemas de administração e combinações sinérgicas de compostos da planta. Assim, médicos e pacientes poderão tomar decisões cada vez mais embasadas quanto à utilização da cannabis como aliada da saúde.



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