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Mercado de cannabis medicinal no Brasil: crescimento, oportunidades e obstáculos

  • Foto do escritor: Emsí
    Emsí
  • 27 de fev.
  • 7 min de leitura

Pessoas interagindo em um estande de evento sobre cannabis medicinal, ilustrando o crescimento da indústria e do interesse pelo mercado de cannabis no Brasil.


Introdução:

Nos últimos anos, o mercado de cannabis medicinal no Brasil deixou de ser apenas uma expectativa para se tornar realidade concreta – e em acelerada expansão. Com a evolução das normas e o aumento da demanda de pacientes, o setor movimentou centenas de milhões de reais em 2024 e atrai tanto empresas nacionais quanto gigantes estrangeiras. Porém, esse crescimento vem acompanhado de desafios únicos, incluindo barreiras regulatórias, altos custos e necessidade de educação do público e dos profissionais. Neste artigo, analisamos o panorama atual do mercado de cannabis medicinal brasileiro, destacando seu ritmo de crescimento, as oportunidades de negócio emergentes e os principais obstáculos que precisam ser superados para que o setor alcance todo seu potencial.


Crescimento em Números:

Os indicadores mais recentes mostram um forte crescimento do mercado. Em 2024, o setor de cannabis medicinal no Brasil movimentou cerca de R$ 853 milhões, atendendo mais de 672 mil pacientes espalhados por mais de 80% dos municípios do país . Isso representou um crescimento anual de 22% nas vendas em comparação com o ano anterior . Mantida essa trajetória, a estimativa é de que o faturamento supere a marca de R$ 1 bilhão em 2025 .


Por trás desses números impressionantes, está a ampliação do acesso via importações e também via produtos nacionais autorizados pela Anvisa. Para se ter ideia, hoje existem mais de 2.180 produtos à base de cannabis disponíveis para pacientes brasileiros, considerando diferentes fabricantes e concentrações . Além disso, o número de médicos prescritores vem aumentando (embora ainda represente uma pequena parcela do total de médicos, em torno de 1% em 2022, indicando espaço para crescimento conforme a capacitação avança) .


Outro dado marcante é a internacionalização desse mercado interno: mais de 413 empresas estrangeiras já exportam produtos de cannabis para o Brasil . Essa variedade de fornecedores amplia as opções terapêuticas para pacientes (desde óleos de CBD puro até formulações com proporções variadas de THC/CBD, cápsulas, sprays etc.), mas também ressalta como o país ainda depende fortemente de importações para suprir a demanda interna .


Oportunidades e Potencial:

Apesar das limitações atuais, o Brasil desponta como um dos mercados com maior potencial na área de cannabis medicinal por várias razões:

Grande demanda interna: Com população de mais de 210 milhões e uma prevalência significativa de doenças crônicas, o Brasil possui milhares de pacientes que podem se beneficiar da cannabis medicinal – muitos dos quais ainda não têm acesso ao tratamento. Conforme a informação e a confiança médica aumentam, espera-se uma ampliação da base de pacientes atendidos.

Clima e agricultura favoráveis: O país tem condições agronômicas excelentes para o cultivo de cannabis (diversidade climática, solos férteis e experiência no agronegócio). Uma vez regulamentado o cultivo nacional para fins medicinais, o Brasil pode se tornar um dos maiores produtores globais de cannabis medicinal e cânhamo industrial . Isso abriria caminho para exportar matéria-prima ou produtos de alto valor agregado, inserindo o Brasil num mercado internacional bilionário.

Geração de empregos e investimentos: A cadeia produtiva da cannabis envolve agricultura, pesquisa científica, indústria farmacêutica, logística, educação e varejo. Estimativas indicam potencial de criação de dezenas de milhares de empregos diretos e indiretos nos próximos anos, desde agricultores cultivando cânhamo até químicos desenvolvendo novos medicamentos . Startups especializadas e grandes empresas farmacêuticas já estão de olho nesse filão, havendo perspectiva de investimentos significativos assim que o ambiente regulatório estiver mais definido.

Inovação e liderança científica: O Brasil possui centros de pesquisa de ponta em canabinoides (como a USP, Unicamp e Fiocruz). Com um mercado local próspero, há incentivo para mais pesquisa & desenvolvimento de formulações inovadoras, estudos clínicos nacionais e até patentes brasileiras no setor. O conhecimento produzido aqui pode posicionar o país como referência científica em cannabis medicinal na América Latina, gerando intercâmbio internacional e avanços terapêuticos.

Diversificação industrial (cânhamo): Além dos usos medicinais, a regulamentação do cânhamo industrial traz oportunidades adicionais. Cânhamo (cannabis com THC <0,3%) serve como matéria-prima para fibras têxteis, bioplásticos, papel, materiais de construção, cosméticos e produtos veterinários, dentre outros. A decisão do STJ em 2024 justamente liberou o cultivo dessa variante para fins industriais e medicinais, o que pode desencadear uma nova indústria do cânhamo no Brasil , revitalizando setores como têxtil e celulose com uma cultura sustentável.


Um reflexo desse potencial é a realização de eventos e feiras de negócio sobre cannabis no país. Em 2025, por exemplo, ocorrerá em São Paulo a Medical Cannabis Fair, paralelamente a congressos médicos, conectando empresas, investidores e profissionais de saúde . O crescente interesse empresarial mostra que, apesar dos pesares, muitos querem fazer parte desse mercado promissor desde já.


Principais Obstáculos e Desafios:

Por outro lado, o caminho não é sem obstáculos. Vejamos os desafios mais significativos que o mercado de cannabis medicinal brasileiro enfrenta atualmente:

Regulação restritiva do cultivo: Até o final de 2024, era proibido plantar cannabis no Brasil para fins comerciais medicinais (tanto por particulares quanto empresas), obrigando a importação de todo insumo – o que encarece o produto final e gera burocracia . Essa proibição compromete a competitividade das empresas nacionais frente a estrangeiras e eleva o custo dos tratamentos para os pacientes. A decisão do STJ, que dá 6 meses para a Anvisa regulamentar o cultivo de cânhamo medicinal, pode aliviar esse problema em breve . Contudo, até as novas regras entrarem em vigor e as primeiras colheitas acontecerem, essa dependência de importação permanece um gargalo.

Custos elevados para o paciente: Consequência direta do ponto anterior, os medicamentos de cannabis disponíveis têm preços elevados. Um frasco mensal de óleo de CBD, por exemplo, pode custar de R$ 300 a R$ 2.500, dependendo da marca e concentração. Sem cobertura pelos planos de saúde e com oferta limitada no SUS (apenas algumas decisões judiciais obrigam fornecimento público pontual), muitos pacientes não conseguem arcar financeiramente com o tratamento contínuo. Embora associações sem fins lucrativos tentem prover produtos a baixo custo, a escala ainda é pequena. Reduzir custos – via produção nacional, competição de mercado e talvez incentivo fiscal – é crucial para que o tratamento alcance camadas mais amplas da população.

Burocracia e insegurança jurídica: Empreender no setor de cannabis medicinal no Brasil ainda é uma aventura jurídica. As regras da Anvisa para registro (ou autorização sanitária) de produtos são novas e complexas, exigindo investimentos altos em dossiês de qualidade e segurança. Além disso, a falta de uma lei clara sobre cultivo faz com que empresas interessadas nesse passo dependam de decisões judiciais ou fiquem aguardando mudanças legais . Projetos de lei como o PL 399/2015 seguem travados, e até resoluções do CFM (Conselho de Medicina) já geraram polêmica – vide a Resolução 2324/2022 do CFM que tentou restringir prescrições e acabou suspensa após críticas . Todo esse contexto afugenta investidores mais cautelosos e atrasa planos de expansão.

Desinformação e preconceito: Embora a percepção pública esteja mudando rapidamente, ainda existe estigma associado à cannabis. Mitos de que “maconha medicinal é uma desculpa para legalizar drogas” ou receios infundados sobre dependência fazem com que parte dos médicos resista a prescrever e parte dos pacientes hesite em aderir a esse tratamento. Campanhas de conscientização e, principalmente, educação médica continuada são necessárias. Muitos médicos formados há décadas não tiveram nenhuma informação sobre o sistema endocanabinoide ou evidências atuais durante sua formação. Felizmente, iniciativas como cursos, eventos científicos e diretrizes estão surgindo para preencher essa lacuna. A confiança do público tende a aumentar conforme surgem mais histórias de pacientes beneficiados e aval da comunidade médica.

Logística e acesso geográfico: O alcance aos produtos de cannabis ainda é desigual regionalmente. Grandes centros urbanos concentram a maioria das clínicas e pontos de venda autorizados. Pacientes de cidades do interior ou regiões distantes frequentemente dependem de delivery de medicamentos ou viagens para conseguir seus produtos, o que pode ser moroso (especialmente no caso de importações, onde remessas internacionais precisam passar por alfândega). Integrar a cannabis medicinal nas redes de farmácias comuns e eventualmente em programas do SUS ajudaria a levar o tratamento a locais hoje desatendidos.


Importante notar que muitas dessas barreiras estão gradativamente sendo derrubadas. A cada avanço regulatório – como a simplificação da importação em 2022 ou a perspectiva de cultivo após 2024 – o mercado tende a responder com mais crescimento, investimentos e concorrência, o que beneficia o consumidor final. Mesmo assim, analistas ressaltam que o desenvolvimento do setor não será linear: ele enfrenta idas e vindas, com momentos de otimismo e outros de cautela . A instabilidade regulatória global em cannabis (com países e até estados adotando posturas diferentes) também impacta, mas a tendência mundial é de expansão e aceitação progressiva.


Perspectivas Futuras:

O consenso entre especialistas é de que o mercado de cannabis medicinal no Brasil está apenas em seu início de jornada. Para destravar todo seu potencial nos próximos anos, alguns cenários esperados incluem:

• A Anvisa estabelecendo normas para cultivo local e processamento industrial da cannabis medicinal (atendendo à determinação do STJ). Isso pode ocorrer já em 2025, permitindo que, a partir de 2026, tenhamos os primeiros produtos “plantados e feitos no Brasil”.

Aprovação de legislação federal no Congresso que consolide as regras, dando segurança jurídica para investidores. Se o PL 399/2015 (ou similar) for aprovado, ele criará um marco legal abrangente, contemplando cultivo por empresas e associações, incentivos à pesquisa, e até uso industrial do cânhamo, tudo isso sob controles de qualidade estritos .

Entrada de novos players nacionais: Empresas brasileiras dos setores farmacêutico, agrícola e de bem-estar devem ingressar ou expandir atuação no mercado canábico. Isso aumentará a competição e possivelmente trará queda nos preços ao consumidor, além de produtos inovadores adequados ao gosto e poder aquisitivo local.

Exportação e parcerias internacionais: Com um eventual excedente de produção e qualidade comprovada, o Brasil pode se tornar exportador de cannabis medicinal para outros países latino-americanos que enfrentam dificuldade de produção. Parcerias com multinacionais podem transformar o país num hub de produção regional.

Maior aceitação médica: Espera-se que em breve o uso medicinal de cannabis se torne tão corriqueiro quanto de qualquer outro medicamento de última geração. Com novos estudos vindo à tona e possivelmente inclusão de alguns derivados de cannabis em protocolos clínicos oficiais, o preconceito médico tende a diminuir drasticamente. A formação de novos médicos já começa a incluir o tema, preparando uma geração mais familiarizada com essas terapias.

Integração ao sistema de saúde público: Em alguns estados, iniciativas locais (como lei aprovada em São Paulo em 2021) já buscam oferecer medicamentos de cannabis via SUS . No futuro, poderemos ver programas públicos fornecendo cannabis medicinal para indicações específicas, especialmente se os custos caírem. Isso seria transformador para pacientes de baixa renda.


Em suma, as perspectivas são animadoras. O Brasil possui vantagens comparativas e demanda interna para ser líder em cannabis medicinal na América Latina, mas precisa remover as amarras que ainda seguram o setor. A combinação de regulação inteligente + investimento + educação formará a receita do sucesso. Se os obstáculos forem endereçados, o mercado de cannabis medicinal não só crescerá em valor, mas também em impacto social positivo – com milhares de pacientes tendo acesso a tratamentos eficazes e uma nova indústria gerando conhecimento, renda e bem-estar. O ano de 2024 pode ser lembrado como o ponto de inflexão que impulsionou essa nova era, e cabe a nós acompanhar de perto esses próximos capítulos.

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